Saturday, December 11, 2010

a árvore da minha janela (3)



não pensava referir-te desta vez
ainda estou a pensar mudar de novo
não me encontro neste quarto
neste sítio
estava à espera de outra janela
mas olhei para fora e olhavas para mim
como ignorar

o dia vestiu-se de branco
e espalhou-me uma paz nostálgica
na alma

vou talvez poder um dia
encontrar outra vez um sítio
onde possa arrumar os quadros da avó-linda
na parede
pegar nos meus livros
nas pautas
e todos os pratos e garfos e facas e colheres e paninhos e panleas e mesa e cadeiras e mesinhas e sofás e tapetes e sei lá mais que tralha que sempre aqueceu os meus dias e ajudava a criar aquele fricassé que tantas bocas acolheu com mensagens do género

- um dia tens que ir lá a casa cozinhar isto para a família

vou mesmo é querer convidar essas bocas todas para o virem degustar á beira dessa janela onde estará a árvore que há-de olhar para mim para falarmos outra vez os dois

Saturday, November 20, 2010

para s

lembro aquele dia em que por uma razão que ultrapassa a razão da minha compreensão hoje, tentei fazer desaparecer um objecto teu para poder usufruir do seu conteúdo.
claro, gorou-se e fui apanhado.
ainda bem, foi um dos exemplos que ficou no meu crescer que fez diminuir o risco de tentar outras vezes, não que não possa ter acontecido (a tentação), só que já não recordo, porque não voltei a cometer um acto tamanho.
mas o exemplo não serve para falar disso.
serve para falar do que não se lê do facto mas do que não se vê nem pelo sublinhado
a causa do desespero do tentar fazer desaparecer
a resposta contém um facto só que me interessa referir
gostar muito de toda a gente reflete sempre um pouco do princípio de que por uma qualquer razão se acha que ninguém gosta de nós verdadeiramente
mas o gostar de alguém também pressupôe uma irracionalidade intrínseca
gosta-se, pronto.
neste caso existe uma diferença visível
só eu é que "gosto, pronto", o tamanho da insegurança do gostar recíproco leva a que quem sente assim não assimile que do outro lado também "se goste, pronto" de nós,
e esse nós de que falo tem sempre atitudes forçadas para evitar que o outro deixe de gostar
claro que acaba por ser uma seca ao outro e apesar de "gostar, pronto" é-se um chato.

passei por miriades de pensamentos, reflexões e discussões internas para me livrar deste pesadelo, e só quando aceitei que era intrínseco meu, como se tivesse nascido com ele, é que o resolvi
no fundo está aqui comigo, adormece e acorda quando eu adormeço e acordo, mas nem molda a atitude nem me tira o apetite do almoço
até à algum tempo a esta parte a excepção eras tu
até ao dia da tua célebre frase

foi como se algo explodisse dentro de mim, a frase feriu-me de morte
doeu tanto que passei dias a espernear
quando a razão finalmente se conseguiu impor passei a reflectir no porquê da excepção e na razão porque não consegui só no teu caso me livrar disto
claro que o amor era imenso, mais imenso que o gostar de toda a gente e isso torna sempre mais difícil evitar a tentação (que está cá e não deixo que adormeça só para evitar que acorde sem eu dar conta)
claro que não chega, esse amor imenso existe e existia antes com muito mais gente e com esses consegui livrar-me deste absurdo
tinha que ser algo que só tu tinhas que me fazia despoletar o incotrolado sentido

foi então que descobri que queria tanto mudar algo em ti, ou que pelo menos reconhecesses esse virús, que acedi a tentar-me ter na mesma a atitude forçada de agradar (que é a atitude forçada do teu caso, com outros eram outras)
tudo para evitar ser julgado e tentar-te fazer ver esse teu julgamento irracional das pessoas, aquele carimbo doloroso que tanto desagrada como também é tão injusto

apercebi-me pelo meio destas questões todas que não há de facto razão para se gostar de toda a gente, e que se pode muito bem não gostar deste ou daquele, isto sem querer mal a este ou aquele que se não goste, mas simplesmente deixar-me de interessar porque sim

foi portanto o que aconteceu comigo
o s acabou dentro de mim como um interesse, ou uma curiosidade que me fizesse fazer perguntas ou tentar comunicar
basta-me saber que está bem, ou menos mal
gostava mesmo é que entendesse este texto
quem sabe para mudar um bocadinho

p.s. a densidade deste objecto de escrita é obviamente propositada
não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico porque eu
não escrevo ao abrigo de nada excepto da chuva (se puder)

Sunday, November 14, 2010

talvez um amor ausente



nestas ausências de amar
falta aquele sopro inconsciente
as razões de voltarmos a casa
como se não importasse onde nos deitamos
descuram-se as unhas dos pés
não importa o tamanho do cabelo
e
dormir é um súplicio, comer um frete
compor música doi porque a saudade não tem destinatário
serve-se então a impaciencia nos copos
e aparecem as sombras dos amores antigos

como agora são raros os dias dos sorrisos
mútuos
o andar é mecânico
tanto faz a chuva ou o vento
ou o frio

ao fechar dos olhos
não se encontra aquele olhar
nem se sente o conforto do corpo ausente
aquele ombro indizível
que pagava os dias difíceis

embora ainda assim
sempre que dobro uma esquina
espero esse reencontro
de poder sonhar em conjunto
e construir
construir
construir



contigo

Monday, June 21, 2010

saramago

li o levantado do chao numa especie de extase
foi o terceiro livro que li escrito por ele
ainda hoje procuro palavras para descrever o imenso belo que vivi
nunca demorei tanto tempo a ler um livro
com medo que acabasse

sinto agora este vazio de depedida
obrigado jose
ateh sempre

Thursday, May 27, 2010

o perder da minha cozinha

foi com paixao desusada que agarrei esta oportunidade
os riscos eram imensos
sem dinheiro para nada resolvi ainda assim aceitar
porque me pediram, porque acreditaram em mim

mas de nada serve um negocio sem clientes
e a verdade eh que nem veh-los
por muito esforco que fiz, ir porta a porta com flyers
todas as semanas durante um mes
ainda chegou a acender
afinal paguei o emprestimo do stock
sou o dono de toda esta comida
consegui fumar e beber o meu copito de vez em quando
claro que foi ah chamussada e croquetando
porque o dinheiro que ia fazendo era para repor o stock

estavam eles convencidos e convenceram-me tambem que no bom tempo
as pessoas vinham muito ao pub porque o jardim eh muito agradavel
planeamos barbecues e menus especiais
trabalhamos sempre em sintonia
mas Maio chegado, o sol com ele e nada
cada vez mais vazio, sem gente
conseguia ainda assim andar a zero ateh este ultimo domingo
fiz comida para 30 pessoas e vendi comida soh a 3

obviamente nao posso continuar
nao tenho como e eles tambem nao
com o pesar que nos achaca nestas alturas
resolvemos por mutuo acordo que a cozinha vai fechar
primeiro a cozinha depois o pub, digo eu

resta-me no momento o part-time que apesar de tudo mantive
mesmo sem dias de folga nao saih do outro restaurante
uma vez por semana lah fui eu trabalhar do outro lado da cidade
muitas vezes a peh porque nao aceitavam chamussas no autocarro

consegui que voltassem a dar-me mais dias por semana
porque sim, gostam de mim e do meu trabalho na cozinha
fiquei com o problema do quarto
e agora como vou pagar?
estava a pagar o quarto em troca de limpar o pub todos os dias de manhah
mas agora nem isso dah para manter

a sorte caiu como que por milagre quando o Carlos e o Vladimiro
amigos daqui desde que cah cheguei
me ofereceram um quarto em casa deles ateh eu conseguir sair mais uma vez deste embaraco

resta dizer que estou triste por ficar sem esta cozinha
onde aprendi tanto mas tanto que nunca julguei possivel ainda aprender assim com esta idade
fiquei a saber que ainda posso aprender muito mais
e que quero aprender muito mais
o prazer indizivel que eh cozinhar para ouvir dizer -delicious!
foi nesta cozinha que aprendi a chamussa, o caril, o roast ingles
e a maior parte de toda a comida tradicional inglesa (sim, existe e recomenda-se)
e onde recebi os maiores elogios a essa mesma comida vinda de ingleses
o que para um portugues nao deve estar mal

fico tambem com pena do pub, onde fui tao acarinhado
e de onde vou sair com uma lagrima ao canto do olho
e olhares embargados a verem-me sair
eu sei que eh dos tempos
da crise
mas aqui podia criar, e eu gosto tanto de criar

a musica nao estah parada, tenho vindo a tocar
com pessoas que vou conhecendo
ah quarta-feira a noite eh sagrada
o Lee vem-me buscar a mim ao piano e ah guitarra
e lah vou eu tocar e cantar com quem aparece
ou sozinho e fazer a festa
isso nao vai parar, ele jah sabe para onde eu vou mudar

claro agora eh voltar ah luta com o C.V. palmilhando southampton
ah procura do emprego que preciso

fiquem com a certeza que nao desisto

vou comer a ultima chamussa que aqui cozinhei

Tuesday, April 27, 2010

a lenda do croquete

(ou a lêndia num croquete?)

começou no croquete pois então
sabia lá fazer chamussas!

depois era aquela sensação
eu adoro croquetes, nunca fiz um
vou à internet aprender
mas aqueles que a mãe fazia...

era como recordar um sonho
resolvi usar as cobaias inglesas
porque é simples
seja o que for que cozinhes
o prato chega à mesa e sem provar
duas toneladas de sal e seis litros de pimenta
mostarda, ketchup
como uma sopa

ora portantos
escondes os molhos
e nem guardanapo
pega lá
comem cus dedos
um rilhoto de cão (vulgo dog poo)

apesar de desconfiados se for de borla eles comem
depois vem a parte difícil
fazê-los pagar por comida

pode-se dar água com alcoól
eles pagam
refiro-me a alcoól etílico
sim, o azul
mas comer...

ok, depois vieram as chamussas
essa velha estória
mas sempre os croquetes de ladecos

ontem senti-me inspirado
e disse
vamos aos croquetes de vez

não vou confessar a receita
é minha e única
mas fiquei com tanta fome que passei o dia a comer sandes para enganar
sobrou um
este da foto

a velinha é só para as almas
e depois deste sururu dos cheiros
das provas
vou finalmente comer um
este mesmo, da foto
e deixar a vela queimar sozinha

amanhã digo o resultado

Friday, April 9, 2010

alento

comeco por dizer que estava desinspirado
preguicoso
sentia-me estupido
confesso que me falta alguem na vida
algo que nao se escolhe
ou se tem, ou nao
e ha alturas em que essa ausencia arrasa os nervos

compor, eh acima de tudo como que uma dadiva de nao sei onde
e pode parar
como uma maldicao
nunca mais fazes uma musica
tenho terror disso
os momentos que vivi com as musicas
que agora nao ja considero minhas
mas de todos
sao unicos

por alguma razao
a ausencia dos sentidos simples
amor, paz, amigos
deita-me por terra
por longos periodos de tempo
perco o fio
nao apetece nada a nao ser o que nao tenho
fico sombrio melancolico

e eu adoro celebrar
as pessoas
as coisas
a musica

e dar
amor
abracos
sentidos

e vim aqui procurar esse alento

ei-lo

Thursday, April 8, 2010

a árvore da minha janela (2)


tu e o deserto
cansado de ser objectivo
observo-te
mais uma vez ela germina
tu não

no teu pesar
estão as infinitas luzes da farinha
ao trocar os olhos

pensas mais do que existes, pois
e depois os homens
tantos e tão poucos
nenhum

os pianos defecam
coisas sem saída
o pc não fala
e não posso ir lá
onde as raízes se perderam

falas com Ele também
no teu soturno mal estar
aquele sorriso dois
mil seiscentos e vinte e um

ele, aquele, alguém
podia
só estar
comigo
aqui

para ele
para mim
para nós

a minha alma fere-se de corpo
nunca soube
porquê

Sunday, April 4, 2010

vocabulario

dizem que o portugues e muito traicoeiro
o ingles nao lhe fica atras
e bom perceber estas regras minimas
alem de nao fazerem esforco nenhum para te perceberem
os ingleses desconfiam de tudo o que nao e british
e nao perdoam nunca pequenos erros de linguagem
como o simples facto de nao se dizer "please"
o verdadeiro significado de algumas palavras ou expressoes
e realmente importante
vejamos:

thank you - quero que te fodas
please -

Wednesday, March 10, 2010

escroques

nem sei se se escreve assim
escroque
sim
deve ser assim

as coisas que tenho lido sobre portugal
a comissão de ética

ética de quem?

as escutas
o razoeiro no facebook
tudo isto com lutas entre apoiantes de Manuel Alegre
eu é que sou o oficial!!
o sócrates cruxificado?
isso é que não
já basta o cavaco das nossas dores de cabeça

daqui a pouco vira incompreendido
meio passo para santo
e
eu
só lhe vejo arrogância

sócrates não, cavaco muito menos
fora cus mirandas, menezes, loureiros, granadeiros e quejandos

FORA
SHÔ

(sorry)

que raio

e eu a fazer chamussas....

Wednesday, March 3, 2010

viver de chamussas

acabado de aceitar dirigir a cozinha sozinho, e teso
comecei a pensar como resolver o problema do dinheiro de bolso
estava quase a fumar outra vez pelos do c. quando me lembrei dos croquetes
tinha o resto da carne do Sunday Roast, vulgo assado de domingo
e decidi
hoje vou aprender a fazer croquetes
google search, vulgo procura google e aquilo metia farinha
nunca fiz qualquer tipo de massa para nada
farinha soh em bolos, ou pao, prontos iscas
mas iscas sao iscas

lah fui tentar e consegui
meti os croquetes no bar
ofereci os primeiros e consegui vender alguns
6 croquetes e tabaco para hoje. boa

mas nao pegam muito bem
croquetes para os ingleses sao rolos de pureh
passei a chamar-lhes "portuguese style beef croquettes"
vulgo croquetes de carne
alguns chamam-lhes dog pu

faltava algo
algo que tambem fosse visual
que eles comem sempre quando veem

estava eu a comprar especiarias para fazer um caril
e vi umas chamussas
comprei uma porque gosto de vez em quando
reparei que vendiam aos sacos
pensei
e chamussas?

o Ricardo a fazer chamussas?
fui ver ao google outra vez
o recheio era simples com carne de cordeiro
eh tambem o que mais vende na loja, eu perguntei
e a massa?
farinha! e como se dobra?
encontrei videos
fiz o recheio primeiro, amazing (vulgo nao estah mal)
a massa, faz-se bem, mas conseguir a espessura de uma folha de papel eh obra
dobrar, minha santa
os primeiros pareciam rilhotos de bosta
dei a provar mesmo assim, adoraram
tinha que conseguir, ao fim de uma hora consegui dobrar algo parecido com uma chamussa
cheguei ah conclusao que precisava de seis dias para fazer 20 chamussas

como me habituei a nao desistir
fui falar ah loja dos chineses que teem tudo
a dona, que me vende bacalhau da noruega, disse
estah ali, congelada, eh soh descongelar e dobrar
disse tambem que os indianos (sim, e os paquistaneses) eh que lhe compram aquilo
comprei, e fui tentar
eh uma massa folha de papel chines, impressionante
enrolar uma chamussa passou a ser um simples origami
fiz, e agora nao tenho maos a medir, voam
claro que eles lhes chamam samosas, eu nao lhes digo que sao chamussas e prontos
agora olho para os precos das coisas e digo
aquelas calcas custam 17 chamussas

quando vou ao bar dos chamussa-me-esse
uma cerveja soh custa 6 chamussas e uma dentada
tenho agora chamussas de bolso para o dia-a-dia

faz-me lembrar aquele velho ditado que diz:
nao chamussaras o croquete alheiro

ei-las, as quatro primeirinhas


p.s. aproveito para dizer que jah paguei tudo o que me emprestaram para fazer o stock da cozinha, mas o dinheiro que nao eh de bolso para jah eh para investir e tentar guardar algum
pareco estar no caminho certo nao queria ter que ir a Portugal ah chamussada

Tuesday, February 2, 2010

quem me compra um exemplar?

Este texto de Jose Saramago que reproduzo aqui para ajudar a divulgar

Uma Jangada de Pedra a Caminho do Haiti

January 28th, 2010

As minhas palavras são de agradecimento. A Fundação José Saramago teve uma ideia, louvável por definição, mas que poderia ter entrado na história como uma simples boa intenção, mais uma das muitas com que dizem estar calcetado o caminho para o inferno. Era a ideia editar um livro. Como se vê, nada de original, pelo menos em princípio, livros é o que não falta. A diferença estaria em que o produto da venda deste se destinaria a ajudar as vítimas sobreviventes do sismo do Haiti. Quantificar tal ajuda, por exemplo, na renúncia do autor aos seus direitos e numa redução do lucro normal da editora, teria o grave inconveniente de converter em mero gesto simbólico o que deveria ser, tanto quanto fosse possível, proveitoso e substancial. Foi possível. Graças à imediata e generosa colaboração das editoras Caminho e Alfaguara e das entidades que participam na feitura e difusão de um livro, desde a fábrica de papel à tipografia, desde o distribuidor ao comércio livreiro, os 15 euros que o comprador gastará serão integralmente entregues à Cruz Vermelha para que os faça seguir ao seu destino. Se chegássemos a um milhão de exemplares (o sonho é livre) seriam 15 milhões de euros de ajuda. Para a calamidade que caiu sobre o Haiti 15 milhões de euros não passam de uma gota de água, mas A Jangada de Pedra (foi este o livro escolhido) será também publicada em Espanha e no mundo hispânico da América Latina – quem sabe então o que poderá suceder? A todos os que nos acompanharam na concretização da ideia primeira, tornando-a mais rica e efectiva, a nossa gratidão, o nosso reconhecimento para sempre.

Layout 1

Sunday, January 24, 2010

apetece-me desistir


continuo a nao parecer pertencer
a nada
fartei-me de tentar
aqui, ali, sempre
canso-me de me ouvir
é como se tivesse mau olhado
ou é porque é muito bom e faz chorar
ou é indiscritivel e o silencio
sim
este silencio
de todos
de tudo
de mim proprio
dos "meus", o que quer que isto queira dizer
é agoniante

e
estou cansado
de tentar
de gostar
de pensar
move-me uma curiosidade cega
nao sei parar
descansar
dormir
comer

nunca estou no lugar certo
digo sempre o inconveniente
e amo profundamente
que (puta de) mistura
ainda por cima sou panasca
foda-se

quero um sitio pra mim
com amigos
gatos
e a minha comida
um piano
e dormir descansado
num qualquer ombro
que me
queira

mas claro
nao vou desistir

Tuesday, January 19, 2010

Tom, o menino grande


nao te vi ontem
foste sair com o Johns, o Graham e outros que nao cheguei a conhecer
recebi a tua mensagem e respondi hoje
já foi tarde
fica este vazio de te perder
sem saber como
este vazio que ainda se torna maior
quando ainda agora celebramos os teus 20 anos

o teu humor
as nossas discussoes sobre tudo
falares comigo toda a noite, sobrio
para levares os teus amigos a cair
na certeza de ficarem em bom porto
o que vai ser deles agora?

fica-me o teu ultimo olhar
quando disseste até quarta
vou ver-te mas nao te vou poder falar
digo aqui
pode ser que o pressintas
obrigado por toda a luz que me deixaste
vai sempre brilhar em mim

Friday, January 15, 2010

a falsa questao

"Não! Mas é como dizes, é uma falsa questão. Alguma vez me viste a discutir o sexo dos anjos?
Nunca te esqueças que sou a comentadora de serviço, nomeada por ti. Vai daí... no comments!"

A falsa questao sou eu
O panasca nao tem problemas
Os heteros podem sempre casar
Eu nunca pude sequer optar
Sabes o que eh essa felicidade?
Poder optar.
Faz algum sentido para ti casar?
Deve fazer porque casaste

se reparares eu nem posso dar a mao na rua
um beijo na praia
ou mesmo ser eu
o F.... nunca me deixou sequer tocar-lhe em publico
o P.... nem um beijo
E sabes, em privado nao jogavamos xadrez
Era mais bolos

deve ser esta a falsa questao

se calhar nunca pensaste nisto
mas o noh na minha garganta ainda nao desatou

e claro

amo-te

deixo-te isto pela eterna Cotrubas

Saturday, January 2, 2010

o casamento gay

vou falar disto aqui porque me apetece desabafar publicamente
normalmente nao me pronuncio muito sobre assuntos gay porque acho que sao uma falsa questao
tambem nao vou comentar a opiniao da igreja catolica porque o papel da igreja em tudo é tao ridiculo que soh conseguia dizer palavores
as razoes da falsa questao sao as de sempre
nao há escolha na sexualidade com que se nasce
ou se é uma coisa ou se é outra
ou é-se as duas
o resto é soh ter que sobreviver numa sociedade hetero

eu nao optei, nao escolhi, sou assim
gay ou homossexual ou panasca (depende das visoes)
já vi coisas no mundo diferenciado das sexualidades que me espantaram bem mais que a minha propria condicao
vi vidas destrocadas de pessoas que nao se encontram porque sao as duas coisas
amigos que morreram de sida por nunca terem admitido que o eram e como tal o sexo é levado ao limite do escondido gerando situacoes extremas
o mais horrivel foi conhecer alguem, lesbica no caso, que tem uma atraccao fatal (para ela propria) por "peixeiras", o que ela chorava e sofria, a depressao imensa em que vivia SEMPRE, porque nunca teve, uma vez na vida que fosse, coragem de o confessar á pessoa por quem nutria a paixao
em qualquer destes casos a escolha nunca foi sequer uma questao, ninguem escolhe isto
e eu obviamente nunca julgo o que as pessoas nao escolhem sentir

resta-me referir que lutei, ingloriamente, durante 30 anos contra esta "escolha" e deixei de facto muitos ossos no caminho, e uma mulher que amei como pessoa, e ainda hoje amo (como amo muitas) e a quem destrocei a vida soh pela minha condicao

agora o resto

tenho lido sobre a discussao do casamento gay em portugal
parece que o problema maior é chamar casamento
sobre este pormenor vou referir o que se passou comigo
a primeira vez que amei alguem no meu verdadeiro sentido do termo
foi obviamente um homem, que passou a ser a minha casa,
mesmo que tenhamos passado um ano a dormir em casa de amigos
soh para poder dormir
porque precisava da presenca dele como de respirar
fez-me sentir pela primeira vez na vida
o sentido da palavra
familia
no momento em que tudo gerava em voltar com ele
por pensar com ele
a minha vida, a vida dele
a nossa vida
ele passou a ser a minha familia
depois tinha também a minha mae irmaos etc
mas os dois eramos
familia
mesmo sem papel senti que gostava de casar com ele
para celebrar e convidar os amigos nesse caminho bonito
que tivemos juntos
de uniao, de respeito
de amor

nem sei se consigo explicar isto
mas quando acabamos,
o amor acabou dentro de mim nem sei como,
mas tambem nao sei como comecou (foi a minha mae que lembrou este pormenor para eu conseguir aceitar que tinha acabado naturalmente)
acabei no hospital porque nao comi nada durante 2 meses
foi preciso a minha mae mover mundos para ele poder ver-me internado
e o que me aconteceu foi interior a mim
perdi a familia e destrocei-lhe a vida
como nao podia mentir-lhe (porque ainda hoje o amo, como amo muitas mulheres) tive que lhe dizer que nao amava mais
como em qualquer casamento o meu caso nao se diferencia de todos os que conheco nos meus amigos hetero
e nao me venham com os filhos porque eu mesmo sozinho
teria educado bastante melhor muitos dos filhos que conheci e que me passaram pela vida como professor e mesmo entre pessoas amigas
importa sim evitar casos como os que tenho presenciado de pessoas gay com quatro filhos, uma vida de mentira, uma mulher infeliz e 4 filhos que ainda hoje nao sabem o que lhes aconteceu

fica a pergunta que queria fazer no inicio deste lencol de palavras
será assim tao importante o nome?
é
porque casamento é o que eu vivi
e confesso
ainda hoje quero casar
com um homem
se ele aparecer

p.s. - desculpem a ausencia de acentos mas o teclado nao tem, e tolhe-me o juizo escrever assim