Friday, February 8, 2013

a minha desalma

queria chorar num ombro sem rosto
onde não temesse a vergonha da culpa
que sinto
o consolo do sal que perdi
no desvaneio da indifrença
com que cometi os pecados desta dor

a mente, mente
como sempre

hoje mentia diferente
mas já não sei como enganar-me a mim

olho agora para o meu todo
este resto que sobrou
do sonho antigo

que me deu para sonhar que agora seria outro o mundo?
realizar tarde
dizem outros
ainda cedo
que nem os sítios mudam
fosse eu outro sonho
melhor seria
a sua ausência
talvez

mantem-se, no entanto, esta voz
gritante
dentro de mim
sem descanso
a julgar
a profetizar
a opinar
a sentenciar
e
a tentar iludir-me

esse dia já fora,
agora
grita neste nada

- está calada estúpida!

susurro eu como marido cansado da vida cinzenta ao lado da rela ofegante alienada do trabalho caseiro da esfrega das pratas na sala que não se usa, nunca se usa. vida reduzida na preguiça do futebol e na saudade dos corpos desejados
não descubro o silêncio, tudo buzina num constante despejo, como se ninguém se deixasse ser, estas vidas de constante justificar o incomodo de não se poder deixar ir
e
como num grito
deixar acontecer
contigo
sim
contigo
e com o outro
e este
e ela
e até ontem
também

e não deixo
não me deixa
a voz



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