lembro aquele dia em que por uma razão que ultrapassa a razão da minha compreensão hoje, tentei fazer desaparecer um objecto teu para poder usufruir do seu conteúdo.
claro, gorou-se e fui apanhado.
ainda bem, foi um dos exemplos que ficou no meu crescer que fez diminuir o risco de tentar outras vezes, não que não possa ter acontecido (a tentação), só que já não recordo, porque não voltei a cometer um acto tamanho.
mas o exemplo não serve para falar disso.
serve para falar do que não se lê do facto mas do que não se vê nem pelo sublinhado
a causa do desespero do tentar fazer desaparecer
a resposta contém um facto só que me interessa referir
gostar muito de toda a gente reflete sempre um pouco do princípio de que por uma qualquer razão se acha que ninguém gosta de nós verdadeiramente
mas o gostar de alguém também pressupôe uma irracionalidade intrínseca
gosta-se, pronto.
neste caso existe uma diferença visível
só eu é que "gosto, pronto", o tamanho da insegurança do gostar recíproco leva a que quem sente assim não assimile que do outro lado também "se goste, pronto" de nós,
e esse nós de que falo tem sempre atitudes forçadas para evitar que o outro deixe de gostar
claro que acaba por ser uma seca ao outro e apesar de "gostar, pronto" é-se um chato.
passei por miriades de pensamentos, reflexões e discussões internas para me livrar deste pesadelo, e só quando aceitei que era intrínseco meu, como se tivesse nascido com ele, é que o resolvi
no fundo está aqui comigo, adormece e acorda quando eu adormeço e acordo, mas nem molda a atitude nem me tira o apetite do almoço
até à algum tempo a esta parte a excepção eras tu
até ao dia da tua célebre frase
foi como se algo explodisse dentro de mim, a frase feriu-me de morte
doeu tanto que passei dias a espernear
quando a razão finalmente se conseguiu impor passei a reflectir no porquê da excepção e na razão porque não consegui só no teu caso me livrar disto
claro que o amor era imenso, mais imenso que o gostar de toda a gente e isso torna sempre mais difícil evitar a tentação (que está cá e não deixo que adormeça só para evitar que acorde sem eu dar conta)
claro que não chega, esse amor imenso existe e existia antes com muito mais gente e com esses consegui livrar-me deste absurdo
tinha que ser algo que só tu tinhas que me fazia despoletar o incotrolado sentido
foi então que descobri que queria tanto mudar algo em ti, ou que pelo menos reconhecesses esse virús, que acedi a tentar-me ter na mesma a atitude forçada de agradar (que é a atitude forçada do teu caso, com outros eram outras)
tudo para evitar ser julgado e tentar-te fazer ver esse teu julgamento irracional das pessoas, aquele carimbo doloroso que tanto desagrada como também é tão injusto
apercebi-me pelo meio destas questões todas que não há de facto razão para se gostar de toda a gente, e que se pode muito bem não gostar deste ou daquele, isto sem querer mal a este ou aquele que se não goste, mas simplesmente deixar-me de interessar porque sim
foi portanto o que aconteceu comigo
o s acabou dentro de mim como um interesse, ou uma curiosidade que me fizesse fazer perguntas ou tentar comunicar
basta-me saber que está bem, ou menos mal
gostava mesmo é que entendesse este texto
quem sabe para mudar um bocadinho
p.s. a densidade deste objecto de escrita é obviamente propositada
não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico porque eu
não escrevo ao abrigo de nada excepto da chuva (se puder)
Saturday, November 20, 2010
para s
Posted by Unknown at 5:49 AM 0 comments
Sunday, November 14, 2010
talvez um amor ausente
nestas ausências de amar
falta aquele sopro inconsciente
as razões de voltarmos a casa
como se não importasse onde nos deitamos
descuram-se as unhas dos pés
não importa o tamanho do cabelo
e
dormir é um súplicio, comer um frete
compor música doi porque a saudade não tem destinatário
serve-se então a impaciencia nos copos
e aparecem as sombras dos amores antigos
como agora são raros os dias dos sorrisos
mútuos
o andar é mecânico
tanto faz a chuva ou o vento
ou o frio
ao fechar dos olhos
não se encontra aquele olhar
nem se sente o conforto do corpo ausente
aquele ombro indizível
que pagava os dias difíceis
embora ainda assim
sempre que dobro uma esquina
espero esse reencontro
de poder sonhar em conjunto
e construir
construir
construir
contigo
Posted by Unknown at 2:53 AM 2 comments