Wednesday, May 27, 2009

acidentes domésticos e leis inglesas

como não trabalho de sol a sol,
de verão vou de dia e volto de dia
no inverno vou de noite e volto de noite
no verão não vejo a lua
no inverno não vejo o sol,
ia a dizer;
estava a fazer o café da manhã,
foi às seis da tarde para quem lê,
no meu horário eu crio os momentos do dia
o jantar pode ser às duas da manhã
pode também ser o almoço
o relógio biológico empana muitas vezes
por vezes não sei quando durmo
se estou acordado, a trabalhar ou a fazer um café na cozinha,
que é o caso de que estou a falar,
fui a sentar-me na cadeira

e não sei bem como, bati com o pé não sei bem onde
desiquilibrei-me
foi tudo muito rápido
café pra todos
mão debaixo do corpo
cabeça no soalho
e o resultado

depois de me livrar das tonturas, limpar o soalho,
apanhar os cacos e tomar um duche
meti-me no carro para o casino
marcha-a-trás com a mão direita,
nos carros ingleses a manete fica no meio
mas o volante está no lado errado
os carros andam todos em sentido proibido
e para não bater conduzo sempre em transgressão

vou para assinar o ponto
e descubro que a mão cresceu demasiado
não consegui segurar na caneta
como ninguém percebe a minha letra escrevi com a direita
vai dar ao mesmo
depois não me deixaram trabalhar
mas também não pagam se não trabalhar
depois este assunto dá um nó
digo que estou ali para trabalhar
se não posso fazer outra coisa
recepção por exemplo

(agora ler na diagonal ou ler e tentar pontuar)
que não não estou treinado para isso então por que não posso começar o treino tenho que falar com o manager a história volta ao princípio a mão volta ao centro não consegues a roleta só com uma mão lá vou eu tentar mas depois não consigo limpar as fichas da mesa com as duas mãos e fica confuso então sai e a recepção posso tentar vou ter que falar com a general manager fico em pé à espera do resultado do telefonema os clientes a perguntar como é que foi conto a história trinta vezes começam os colegas a ficar embaraçados então não pagam se não trabalhar o sururu ameaça vai para a sala dos empregados onde espero duas horas a mão numa bola de bilhar vem o manager e manda-me para o hospital fico cinco horas à espera para saber que o osso está partido no metacarpo do quinto dedo junto ao pulso e ligam-me os dedos pergunto se é suficiente o telefone tocou de cinco em cinco minutos sempre do casino a quererem saber o que era afinal quando ligo digo que vou voltar para falar e chegar a uma conclusão que não vai para casa que não podes trabalhar assim mas não pagam se não estiver aí mas não podes vir porque não podes trabalhar e não podem dar férias já te ligo de volta espero mais duas horas volta a ligar que hoje não podia resolver nada porque não conseguiu falar com a general quer dizer que já não recebo hoje só a hora que estiveste aqui mas eu quero trabalhar posso muito bem fazer outras coisas falo contigo amanhã...

vou para casa inconformado
no quarto olho o piano, vejo a guitarra
a mão a cantar com o coração à desgarrada de dores
se ao menos soubesse tocar harmónica
era com a esquerda
a mão do osso partido
claro que não está a dar nada de jeito nos 30 canais de tv

pelo menos tenho visto a noite
e o dia
agora só me falta dormir

Thursday, May 14, 2009

1.2.3. quero ver outra vez?

quero ver

apanhado com as fichas na mão
estou a trabalhar!
como se joga o trevo?

num dia fiquei sem dias
cem dias é tortura
sem dias sou eu
e eles passsam

inamoviveis

(não consigo dizer nada)